O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO II

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Instruções dos Espíritos

Uma realeza terrestre

8. Quem melhor do que eu pode compreender a verdade destas palavras de nosso Senhor: “O meu reino não é deste mundo”? O orgulho me perdeu na Terra. Quem, pois, compreenderia o nenhum valor dos reinos da Terra, se eu o não compreendia? Que trouxe eu comigo da minha realeza terrena? Nada, absolutamente nada. E, como que para tornar mais terrível a lição, ela nem sequer me acompanhou até o túmulo! Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no Reino dos Céus! Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre! Oh! como então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que com tanta avidez se requestam na Terra!

Para se granjear um lugar neste reino, são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade em toda a sua celeste prática, a benevolência para com todos. Não se vos pergunta o que fostes, nem que posição ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas enxugastes.

Ó Jesus, Tu o disseste, teu reino não é deste mundo, porque é preciso sofrer para chegar ao céu, de onde os degraus de um trono a ninguém aproximam. A ele só conduzem as veredas mais penosas da vida. Procurai-lhe, pois, o caminho, através das urzes e dos espinhos, não por entre as flores.

Correm os homens por alcançar os bens terrestres, como se os houvessem de guardar para sempre. Aqui, porém, todas as ilusões se somem. Cedo se apercebem eles de que apenas apanharam uma sombra e desprezaram os únicos bens reais e duradouros, os únicos que lhes aproveitam na morada celeste, os únicos que lhes podem facultar acesso a esta.

Compadecei-vos dos que não ganharam o Reino dos Céus; ajudai-os com as vossas preces, porquanto a prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a Terra: não o esqueçais.

Uma Rainha de França. (Havre, 1863.)

Comentário:

Queridos irmãos e irmãs, que a paz de Jesus esteja conosco.

Hoje refletiremos sobre um ensinamento profundo contido na Instruções dos Espíritos no Capítulo II do Evangelho Segundo o Espiritismo, na mensagem intitulada “Uma Realeza Terrestre”, ditada por uma Rainha da França, em 1863.

Essa mensagem traz o testemunho de um Espírito que, tendo conhecido o esplendor e o poder terreno, reconhece, após a morte, a vaidade das grandezas humanas. Ela nos mostra, com humildade e arrependimento, que nenhum título, riqueza ou posição social acompanha o Espírito no além do túmulo.

Na Terra, aquela rainha foi cercada de luxo, bajulações e honrarias. Acreditava que sua condição de soberana lhe abriria as portas do Céu. No entanto, ao despertar na vida espiritual, percebeu uma terrível desilusão: viu-se diante de Espíritos simples, humildes e bondosos — aqueles que ela, em vida, considerava inferiores —, agora em posição muito mais elevada.

Esse testemunho nos ensina que as coroas do mundo nada valem diante da justiça divina. No Reino de Jesus, não há títulos, riquezas nem privilégios. O que conta são as virtudes: a humildade, a caridade, a abnegação e a bondade.

A rainha reconhece que, para alcançar o Reino dos Céus, é preciso sofrer, aprender e servir. Os degraus de um trono não aproximam ninguém de Deus; ao contrário, muitas vezes o poder e o orgulho afastam o Espírito da verdadeira grandeza. A estrada que leva ao Reino do Cristo é estreita e difícil — feita de espinhos e desafios que nos ensinam a crescer espiritualmente.

Ela também nos alerta sobre a ilusão dos bens materiais. Quantos correm pelo ouro, pelo prestígio e pelas aparências, acreditando que isso lhes trará felicidade duradoura! Mas, quando a vida corporal termina, tudo isso se desfaz como uma sombra. Só o bem praticado permanece. Só o amor verdadeiro nos acompanha para além da morte.

Por isso, o Espírito termina sua mensagem com um pedido: orem pelos que ainda não compreenderam o Reino dos Céus, pelos que continuam presos ao orgulho e às ilusões da matéria. A prece, diz ela, é o elo sagrado entre o Céu e a Terra, capaz de amparar os que sofrem e de elevar os corações a Deus.

Que essa lição sirva de espelho para todos nós, lembrando que a verdadeira realeza está na alma que ama, serve e perdoa. Que busquemos, não os tronos do mundo, mas o Reino do Cristo — o reino da luz interior, onde reinam a paz e a fraternidade.

Que Jesus, nosso Mestre e verdadeiro Rei, nos inspire a caminhar com humildade e fé, servindo sempre ao bem.

Que assim seja. 🌟