O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO III

HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI

1. Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já Eu vo-los teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde Eu estiver, também vós aí estejais. (João, 14:1 a 3.)

Diferentes estados da alma na erraticidade

2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no Espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.

Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o Espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.

Comentário:

Queridos irmãos e irmãs, que a paz de Jesus esteja conosco.

Hoje refletiremos sobre uma das passagens mais consoladoras trazidas por Jesus: “Há muitas moradas na casa de meu Pai.” Essas palavras, registradas no Evangelho de João, revelam a grandiosidade do amor divino e a infinita justiça de Deus.

Quando Jesus disse que ia preparar um lugar para nós, Ele não falava apenas de um espaço físico, mas de um estado espiritual, de uma condição de alma. Kardec, ao comentar esse ensinamento, nos explica que a casa do Pai é o Universo, e as “muitas moradas” são os diversos mundos espalhados pelo infinito, onde os Espíritos habitam conforme o grau de sua evolução moral e intelectual.

Assim, entendemos que a criação divina é ampla, justa e progressiva. Ninguém está condenado eternamente, e todos nós temos o nosso lugar preparado conforme o estágio em que nos encontramos na caminhada evolutiva. Há mundos de provas e expiações, como o nosso; mundos de regeneração, onde o bem começa a prevalecer; e mundos mais elevados, onde habitam Espíritos puros e venturosos.

Mas “as muitas moradas” não se referem apenas aos diferentes planetas. Elas também simbolizam os estados da alma na vida espiritual. Cada Espírito, ao desprender-se do corpo, encontra-se em um plano compatível com suas vibrações, seus sentimentos e suas conquistas morais. O Espírito elevado desfruta da paz, da luz e da companhia de afeições queridas; o Espírito ainda imperfeito, preso ao remorso e às paixões terrenas, permanece em regiões de sombra e sofrimento, até que se arrependa e deseje o bem.

Esses ensinamentos nos trazem consolo e responsabilidade. Consolo, porque mostram que ninguém está perdido — todos têm a oportunidade de progredir, de aprender e de recomeçar. Responsabilidade, porque o nosso futuro espiritual depende das nossas escolhas de hoje. Cada ato de bondade, cada gesto de perdão e cada pensamento de amor nos aproximam de moradas mais felizes e harmoniosas.

Portanto, irmãos, ao meditarmos sobre essas palavras de Jesus, lembremo-nos de que a verdadeira morada que buscamos construir está dentro de nós. É no coração purificado e no espírito renovado que encontraremos o caminho para as esferas de luz.

Que possamos, pela prática do bem e pela vivência do Evangelho, preparar desde já a nossa morada entre os que amam, servem e vivem em paz com a vontade de Deus.

Muita paz e luz a todos.